Moderno de Nascença
A lei, que lhes hão-de dar, é defender-lhes comer carne humana e guerrear sem licença do Governador; fazer-lhes ter uma só mulher, vestirem-se pois têm muito algodão, ao menos despois de christãos, tirar-lhes os feiticeiros, mantê-los em justiça entre si e para com os cristãos; fazê-los viver quietos sem se mudarem para outra parte, se não for para antre cristãos, tendo terras repartidas que lhes bastem, e com estes Padres da Companhia para os doutrinarem.
Padre Manuel da Nóbrega, na "Carta da Baía", 8 de maio de 1558, citado no artigo "Anchieta: poesia em tupi e produção da alma", de João Adolfo Hansen
O Brasil, difícil de imaginar, país que todos imaginamos. A contradição, do ser ou não ser, a crise de identidade, está na origem de nossa formação nacional. Aliás, éramos alvo de imaginação, antes mesmo de existirmos: os portugueses, mas também outros povos europeus colonizadores, olhavam para o oceano fantasiando sobre a terra de fartura, a Cocanha revisitada, que encontrariam no Novo Mundo. Quando aportam no litoral baiano, as naus lusitanas carregam sua cultura – e, missão divina, fazem de tudo para sobrepujar a cosmologia nativa. Moderno de nascença: figurações críticas do Brasil reúne ensaios de treze autores, com o complexo intuito de retratar nossa contradição original. E vai além: com o público atual à deriva e claramente cooptado pelas facilidades da massificação, pensar sobre nossa imaginação e de onde esta provém se transforma em um exercício de liberdade.
Dividido em quatro partes: "Sociabilidade: as almas, os negócios, as idéias”; “Relações internacionais, apreços nacionais”; “Fulgurações do moderno” e “Ordens e desordens”; o livro explora as várias facetas da relação entre a escrita e a constituição do ideário nacional.
Da “produção das almas” através da simbologia católica inserida na língua tupi feita sobre os indígenas pelos jesuítas no século XVI, até a cultura de massa através das telecomunicações que se estabelece na ante-sala do golpe de 1964, o livro traz quase como “eixo central” dessa trajetória no tempo, entre o nacional e o estrangeiro, uma entrevista de Roberto Schwarz de 1976. Nela, o crítico desmonta tanto a ilusão do nacionalismo ufanista, quanto a de uma participação igualitária no mundo do capital. Muito antes do termo “globalização”, Schwarz já dizia que “[...] é claro que hoje em dia as independências econômicas, políticas e culturais não só não existem, como são praticamente inconcebíveis”.
Neste percurso, Paulo Arantes investiga as bases materiais e o papel do romance em fazer imaginar-se como comunidade uma sociedade antagônica. Os autores examinam como ao longo da nossa história, vários escritores de estilos e tipos de texto diferentes (Mário Pedrosa, Machado de Assis, Mario de Andrade, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, o antropólogo Roger Bastide etc...) lidaram com suas heranças culturais, posições políticas e as influências estrangeiras no Brasil.
Vinícius Dantas explora a militância e relação entre a produção modernista de Oswald de Andrade e sua militância comunista. Benjamin Abdala Jr. escreve sobre o clássico A formação da literatura brasileira: momentos decisivos, de Antonio Candido, e a influência do contexto de reafirmação do Brasil como nação na época em que a obra foi produzida. O livro traz ainda um texto inédito de Candido, recém-descoberto no arquivo de Oswald de Andrade, sobre o antopofagismo filosófico.
No tempo da cultura de massas planetária, a partir da periferia do capitalismo, em um país com uma desigualdade econômica tremenda que lança uma elite ao “mundo” dos importados e circulação planetária, enquanto os mais pobres vagam por periferias e acampamentos nas beiras de estrada, Moderno de nascença traz reflexões que lembram, que para localizar e pensar sobre o “lugar” Brasil, ou mesmo para encontrar-se dentro dele, é necessário muito mais que um mapa.
Padre Manuel da Nóbrega, na "Carta da Baía", 8 de maio de 1558, citado no artigo "Anchieta: poesia em tupi e produção da alma", de João Adolfo Hansen
O Brasil, difícil de imaginar, país que todos imaginamos. A contradição, do ser ou não ser, a crise de identidade, está na origem de nossa formação nacional. Aliás, éramos alvo de imaginação, antes mesmo de existirmos: os portugueses, mas também outros povos europeus colonizadores, olhavam para o oceano fantasiando sobre a terra de fartura, a Cocanha revisitada, que encontrariam no Novo Mundo. Quando aportam no litoral baiano, as naus lusitanas carregam sua cultura – e, missão divina, fazem de tudo para sobrepujar a cosmologia nativa. Moderno de nascença: figurações críticas do Brasil reúne ensaios de treze autores, com o complexo intuito de retratar nossa contradição original. E vai além: com o público atual à deriva e claramente cooptado pelas facilidades da massificação, pensar sobre nossa imaginação e de onde esta provém se transforma em um exercício de liberdade.
Dividido em quatro partes: "Sociabilidade: as almas, os negócios, as idéias”; “Relações internacionais, apreços nacionais”; “Fulgurações do moderno” e “Ordens e desordens”; o livro explora as várias facetas da relação entre a escrita e a constituição do ideário nacional.
Da “produção das almas” através da simbologia católica inserida na língua tupi feita sobre os indígenas pelos jesuítas no século XVI, até a cultura de massa através das telecomunicações que se estabelece na ante-sala do golpe de 1964, o livro traz quase como “eixo central” dessa trajetória no tempo, entre o nacional e o estrangeiro, uma entrevista de Roberto Schwarz de 1976. Nela, o crítico desmonta tanto a ilusão do nacionalismo ufanista, quanto a de uma participação igualitária no mundo do capital. Muito antes do termo “globalização”, Schwarz já dizia que “[...] é claro que hoje em dia as independências econômicas, políticas e culturais não só não existem, como são praticamente inconcebíveis”.
Neste percurso, Paulo Arantes investiga as bases materiais e o papel do romance em fazer imaginar-se como comunidade uma sociedade antagônica. Os autores examinam como ao longo da nossa história, vários escritores de estilos e tipos de texto diferentes (Mário Pedrosa, Machado de Assis, Mario de Andrade, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, o antropólogo Roger Bastide etc...) lidaram com suas heranças culturais, posições políticas e as influências estrangeiras no Brasil.
Vinícius Dantas explora a militância e relação entre a produção modernista de Oswald de Andrade e sua militância comunista. Benjamin Abdala Jr. escreve sobre o clássico A formação da literatura brasileira: momentos decisivos, de Antonio Candido, e a influência do contexto de reafirmação do Brasil como nação na época em que a obra foi produzida. O livro traz ainda um texto inédito de Candido, recém-descoberto no arquivo de Oswald de Andrade, sobre o antopofagismo filosófico.
No tempo da cultura de massas planetária, a partir da periferia do capitalismo, em um país com uma desigualdade econômica tremenda que lança uma elite ao “mundo” dos importados e circulação planetária, enquanto os mais pobres vagam por periferias e acampamentos nas beiras de estrada, Moderno de nascença traz reflexões que lembram, que para localizar e pensar sobre o “lugar” Brasil, ou mesmo para encontrar-se dentro dele, é necessário muito mais que um mapa.
Características | |
Ano de publicação | 2009 |
Autor | BENJAMIN ABDALA JR/SALETE DE ALMEIDA CARA(ORG |
Biografia | A lei, que lhes hão-de dar, é defender-lhes comer carne humana e guerrear sem licença do Governador; fazer-lhes ter uma só mulher, vestirem-se pois têm muito algodão, ao menos despois de christãos, tirar-lhes os feiticeiros, mantê-los em justiça entre si e para com os cristãos; fazê-los viver quietos sem se mudarem para outra parte, se não for para antre cristãos, tendo terras repartidas que lhes bastem, e com estes Padres da Companhia para os doutrinarem. Padre Manuel da Nóbrega, na "Carta da Baía", 8 de maio de 1558, citado no artigo "Anchieta: poesia em tupi e produção da alma", de João Adolfo Hansen O Brasil, difícil de imaginar, país que todos imaginamos. A contradição, do ser ou não ser, a crise de identidade, está na origem de nossa formação nacional. Aliás, éramos alvo de imaginação, antes mesmo de existirmos: os portugueses, mas também outros povos europeus colonizadores, olhavam para o oceano fantasiando sobre a terra de fartura, a Cocanha revisitada, que encontrariam no Novo Mundo. Quando aportam no litoral baiano, as naus lusitanas carregam sua cultura – e, missão divina, fazem de tudo para sobrepujar a cosmologia nativa. Moderno de nascença: figurações críticas do Brasil reúne ensaios de treze autores, com o complexo intuito de retratar nossa contradição original. E vai além: com o público atual à deriva e claramente cooptado pelas facilidades da massificação, pensar sobre nossa imaginação e de onde esta provém se transforma em um exercício de liberdade. Dividido em quatro partes: "Sociabilidade: as almas, os negócios, as idéias”; “Relações internacionais, apreços nacionais”; “Fulgurações do moderno” e “Ordens e desordens”; o livro explora as várias facetas da relação entre a escrita e a constituição do ideário nacional. Da “produção das almas” através da simbologia católica inserida na língua tupi feita sobre os indígenas pelos jesuítas no século XVI, até a cultura de massa através das telecomunicações que se estabelece na ante-sala do golpe de 1964, o livro traz quase como “eixo central” dessa trajetória no tempo, entre o nacional e o estrangeiro, uma entrevista de Roberto Schwarz de 1976. Nela, o crítico desmonta tanto a ilusão do nacionalismo ufanista, quanto a de uma participação igualitária no mundo do capital. Muito antes do termo “globalização”, Schwarz já dizia que “[...] é claro que hoje em dia as independências econômicas, políticas e culturais não só não existem, como são praticamente inconcebíveis”. Neste percurso, Paulo Arantes investiga as bases materiais e o papel do romance em fazer imaginar-se como comunidade uma sociedade antagônica. Os autores examinam como ao longo da nossa história, vários escritores de estilos e tipos de texto diferentes (Mário Pedrosa, Machado de Assis, Mario de Andrade, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, o antropólogo Roger Bastide etc...) lidaram com suas heranças culturais, posições políticas e as influências estrangeiras no Brasil. Vinícius Dantas explora a militância e relação entre a produção modernista de Oswald de Andrade e sua militância comunista. Benjamin Abdala Jr. escreve sobre o clássico A formação da literatura brasileira: momentos decisivos, de Antonio Candido, e a influência do contexto de reafirmação do Brasil como nação na época em que a obra foi produzida. O livro traz ainda um texto inédito de Candido, recém-descoberto no arquivo de Oswald de Andrade, sobre o antopofagismo filosófico. No tempo da cultura de massas planetária, a partir da periferia do capitalismo, em um país com uma desigualdade econômica tremenda que lança uma elite ao “mundo” dos importados e circulação planetária, enquanto os mais pobres vagam por periferias e acampamentos nas beiras de estrada, Moderno de nascença traz reflexões que lembram, que para localizar e pensar sobre o “lugar” Brasil, ou mesmo para encontrar-se dentro dele, é necessário muito mais que um mapa. |
Comprimento | 23 |
Editora | BOITEMPO |
ISBN | 9788575590850 |
Lançamento | 05/01/2009 |
Largura | 16 |
Páginas | 240 |